Esta semana meu marido cortou seu dedo lavando a louça aqui em casa. Ao ir para o hospital - que inclusive é onde ele trabalha - a maioria das mulheres ficou absolutamente deslumbrada e chocada ao saber que no seu dia de folga, meu marido lavava a louça enquanto eu trabalhava. Todas estas mulheres que ficaram maravilhadas com um marido que ajuda nas tarefas domésticas ficaram o rodeando e comentando "como eu - Tamyres - tinha sorte em ter um marido destes."
Assim como o Jonatha, que ficou indignado com estas reações, pois nas palavras dele "ele não faz nada demais, apenas os outros maridos é que fazem de menos", eu me revolto e me deprimo quando ouço este tipo de coisa. É realmente algo tão absurdo assim um homem ajudar sua esposa nas tarefas domésticas? Numa sociedade machista, é sim. A maioria das mulheres gostaria de ter um marido companheiro como o meu, e mesmo aquelas que ainda vivem oprimidas debaixo da nossa cultura machista, sem saber que há um mundo, com homens e mulheres diferentes, deseja ter uma vida melhor, um marido companheiro e não "seu dono". E se tantas de nossas mulheres gostariam de uma sociedade melhor e menos machista, porque a sociedade não apresenta mudanças?
Simples: porque estas mulheres dão continuidade à cultura machista na qual foram criadas e na qual casaram dentro de suas casas, com seus filhos e filhas. Não estou aqui dizendo que todas as mulheres fazem isto, mas a maioria sim. O que vemos nas mulheres na faixa dos 35-45 anos são mães que exigem que suas filhas arrumem a cama de maneira impecável, enquanto o quarto do filho pode ser a zona que ele quiser. Mães que ensinam as meninas desde muito novas de que elas tem a obrigação de ajudar na arrumação da casa e ensinam os filhos de que eles devem encontrar esposas que sejam tão boas donas de casa quanto ela própria - sua mãe - sempre foi. Vemos mães que obrigam as filhas a lavarem a louça todo dia enquanto o filho sai jogar futebol com os amigos no campo do bairro, ou do prédio, porque afinal, o machismo não é um problema de classes sociais distintas. Ele atinge todas as classes econômicas e sociais.
E o que isto demonstra? Que estas mulheres gostariam de ter conhecido determinado tipo de homem - ainda raro hoje em dia, infelizmente - e não tiveram esta alegria, mas ao mesmo tempo não fazem nada para que a geração de mulheres que casará com os seus filhos tenha mais escolha e sorte ao encontrar um marido que não considere degradante ajudar sua esposa nas tarefas domésticas. Enquanto o pensamento das próprias mulheres que não gostam do machismo não mudar e elas não compreenderem o seu papel no empoderamento de suas filhas e na conscientização de seus filhos, a nossa sociedade pouco avançará em direção à uma sociedade mais igualitária e menos machista.