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domingo, 30 de setembro de 2012

Outro setembro.

Mais um setembro chega ao fim, e se despede por este ano com um sol fraco e um dia levemente gelado. As coisas pareciam correr lentamente nos últimos tempos, já que os dias para o ano seguinte teimavam em passar lentamente, fazendo com que o dia mais ansiado por ela ainda parecesse longe, distante demais. Sonhava com a vida vindoura todos os dias. Às vezes até, todos os momentos. Sabia que sua vida seria boa, tendo seu companheiro e amigo ao lado dela, por todos os setembros que viriam pela frente.

Ao acordar neste trinta de setembro, lembrou de tantos outros que viveu, sentada ali, vendo a vida passar mais do que vivendo. Tanta coisa e tantas histórias vinham a sua mente.. as tardes de preguiça e despreocupação da adolescência, quando uma briga com uma amiga era o maior problema com o qual tinha que lidar. Agora, sentada embaixo das cobertas, com seu café ao lado, se via muito mais velha, embora alguns anos apenas separassem estes dois momentos da sua vida. A menina ingênua e insegura fora abandonada há algum tempo, sendo gradativamente substituída por uma mulher, que crescia e amadurecia a cada dia novo que passava ao lado de seu companheiro.

Neste trinta de setembro ela sonha com coisas que quando nova, achava que demoraria muito tempo para desejar, e agora sabe que precisa realizar estes sonhos todos também para ter sua família completa, seu sonho perfeito.

Este setembro se despede melancolicamente este ano, anunciando que ano que vem ele será vivido de maneira totalmente nova e diferente, naquele cantinho que seria de sua família por tantos anos..

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A canção da fundação do mundo.

"No escuro, finalmente, alguma coisa começava a acontecer. Uma voz cantava. Muito longe. Nem mesmo era possível precisar a direção de onde vinha. Parecia vir de todas as direções, e Digory chegou a pensar que vinha do fundo da terra. Certas notas pareciam a voz da própria terra. O canto não tinha palavras. Nem chegava a ser um canto. De qualquer forma, era o mais belo som que ele já ouvira. Tão bonito que chegava a ser quase insuportável. O cavalo também parecia estar gostando muito [...].
 - Meu Deus! - exclamou o cocheiro. - Não é uma beleza?
E duas coisas maravilhosas aconteceram ao mesmo tempo.
Uma: outras vozes reuniram-se à primeira, e era impossível contá-las. Vozes harmonizadas à primeira, mais agudas, vibrantes, argênteas.
Outras: a escuridão em cima cintilava de estrelas. Elas não chegaram devagar, uma por uma, como fazem nas noites de verão. Um momento antes, nada havia lá em cima, só a escuridão; num segundo, milhares e milhares de pontos de luz saltaram, estrelas isoladas, constelações, planetas, muito mais reluzentes e maiores do que em nosso mundo. Não havia nuvens. As novas estrelas e as novas vozes surgiram exatamente ao mesmo tempo. Se você tivesse visto e ouvido aquilo, tal como Digory, teria tido a certeza de que eram as estrelas que estavam cantando e que fora a Primeira Voz, a voz profunda, que as fizera aparecer e cantar.
[...]
A Voz na terra estava agora mais alta e triunfante , mas as vozes no céu, depois de entoar com ela por algum tempo, tornaram-se mais suaves.
Longe, perto da linha do horizonte, o céu se acinzentava. Movia-se uma aragem leve e refrescante. O céu naquele ponto tornava-se gradualmente mais pálido. Já se viam formas de colinas recortadas contra ele. E a Voz continuava a cantar.
[...]
O céu do oriente passou de branco para rosa, e de rosa para dourado. A Voz subiu, subiu, até que todo o ar vibrou com ela. E quando atingiu o mais potente e glorioso som que já havia produzido, o sol nasceu.
[...]
A terra tinha muitas cores - cores novas, quentes e brilhantes, que faziam a gente exaltar... Até que se visse o próprio Cantor. Então, todo o resto seria esquecido.
Era um Leão."

As Crônicas de Nárnia - O sobrinho do Mago
C.S. Lewis