"Já faz tempo eu vi você na rua. Cabelo ao vento, gente jovem reunida.
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais"
É muito difícil falar sobre mim, mas hoje surgiu a necessidade de escrever, de botar pra fora algo que eu nem havia percebido que estava a me incomodar. Hoje me vi refletindo sobre mudanças.
Durante os anos de escola, acreditava - como toda adolescente - que minhas amizades eram fortes e infinitas. Mal podia imaginar minha vida sem aqueles que me rodeavam, e jurava que sempre estaria ao lado destas pessoas. Assim como uns 95% dos adolescentes, eu estava errada. A primeira grande mudança que vivi e que me distanciou de meus amigos foi a escolha de curso da universidade. Enveredei pelas humanas, enquanto todos os outros foram para as biológicas e exatas. No big deal, eu pensei.
Mas a partir desta mudança, eu pude perceber que eu nem era assim tão parecida com os meus amigos quanto eu supus durante a época do colégio. Eu percebi que no colégio nós éramos um grupo porque precisávamos uns dos outros, e porque as diferenças que existiam entre nós eram - naquele ponto - menores do que as semelhanças. Os grupinhos de amizade, os rolos e casinhos, as fofocas e as risadas, saídas, provas, estudos e vestibular nos mantinham unidos. Nunca faltava assunto, e um sabia cuidar - no bom sentido - da vida do outro. Mas fora do colégio, sem esta convivência diária, percebi que a cola que mantinha o grupo como tal deixava de existir a cada dia.
Este ano fará 7 anos desde que me formei no ensino médio. E nestes sete anos, as distâncias, físicas e metafísicas só foram aumentando. Era cada vida que se seguia, novas responsabilidades, novos amigos, novos rolos que os antigos amigos já não acompanhavam, novos valores e conhecimentos que não importavam para o outro. E durante muito tempo isso me doeu. Tive dificuldade em lidar com o fato de que minhas amigas já não se importavam em fazer apenas programas que eu não gostava, sem tentar ceder um pouco para eu me encaixar. E percebi que eu também não estava disposta a ceder. Por que haveria de ser apenas eu a ceder? Neste cabo-de-guerra não sei se alguém saiu vencedor.
Hoje olho para as fotos de saídas que nem mais fui convidada, e sei que a culpa paira sobre todas as nossas cabeças. Ninguém foi realmente incisivo em tentar se reaproximar. E a cada novo evento social em que todos sem juntam, é sempre aquela coisa artificial, fria. Apenas em nome dos velhos tempos. Eu não sei mais de meus antigos amigos. O que vejo na internet mostra apenas que não temos mais os mesmos gostos e interesses, e a saudade que dá no peito não é da pessoa que existe hoje, mas daquela que me acompanhou durante anos, anos atrás. É uma saudade de alguém que não existe mais, embora nem mais eu mesma de 17 anos exista. É uma saudade que sinto de um tempo bom, alegre e feliz que vivi, embora eu saiba que não há como voltar, não há como vivê-lo outra vez. As amizades que tive nunca serão por mim desprezadas. Só me dou conta, hoje, de que já não somos mais os mesmos.