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quarta-feira, 1 de junho de 2016

#Terminei | Olga - Fernando Morais.

Confesso que sou uma pessoa que adora ler, mas eventualmente fico presa às releituras daqueles livros que já amo. Este ano, me fiz um desafio: para reler algo que amo, preciso ler um livro inédito antes. Na pegada de meu desafio, peguei a biografia de Olga Benário Prestes para ler, pois confesso, sabia quase nada da vida desta mulher. E que mulher. 

Aos 15 anos, esta menina ingressou no Partido Comunista Alemão, muito inspirada - segundo o livro - no trabalho de seu pai, um advogado que defendia os mais fracos e oprimidos. Sua ascensão dentro do Partido é rápida e em poucos anos ela chegou a cargos altíssimos dentro da cúpula do partido na então URSS. A partir daí, muitos passarão a tratá-la como a mulher de Prestes, reduzindo a personalidade e importância desta mulher alemã, judia e comunista.

Ao longo da leitura, um misto de raiva e tristeza tomava conta de mim. Há muitos anos não me considero uma simpatizante do socialismo, mas durante a leitura do livro, sentia raiva e frustração por todos aqueles ideais terem sido manchados pela ganância e corrupção humanas. Sentia-me frustrada por saber que não, não atingimos um mundo melhor e mais igualitário, ideal pelo qual Olga lutava. Sentia-me vazia e impotente por saber que Olga, estando grávida, seria entregue aos nazistas por um ditador que hoje é conhecido como Pai dos pobres e viria a morrer na Alemanha Nazista. 

Durante o período em que esteve presa no Brasil, ao lado de outras centenas de presos que participaram da Intentona Comunista, Olga viveu um pouco do ideal pela qual lutara, no ambiente menos imaginável possível. Dentro da prisão haviam aulas de política, marxismo, de línguas e matemática. A vida dos presos era comunitária: aqueles que recebiam alimentos da família dividiam com os presos vindos de longe, que não recebiam estes cuidados externos. Um dos momentos que mais me comoveu durante a leitura foi o pequeno motim organizado pelos presos para manter Olga dentro do presídio, pois eles sabiam que a retirada dela dali significava sua extradição para a Alemanha. Ver como todos se protegiam e amavam, mesmo tendo sido praticamente abandonados pela cúpula do Partido que os insuflara a tentar o golpe de estado, me tocou profundamente.

Um outro aspecto do livro que me destruía um pouco a cada linha foi a dura perseguição aos comunistas exercida pela Governo Vargas. Uma verdadeira caça aos comunistas, sem limites éticos, morais ou humanitários. O importante era "derrotar o inimigo", não importando quantas vidas seriam destruídas no caminho. Vidas destruídas efetiva e simbolicamente. O mais assustador disso foi ter lido este livro no atual momento que vivemos no Brasil. Ânimos exaltados, "inimigos" a serem combatidos e destruídos não importando o preço a ser pago. Um dos problemas do Brasil é que os verdadeiros inimigos nunca pagaram o preço pelos crimes que eles sim cometeram. Vargas voltou a ser eleito presidente, o policial responsável pela caça aos comunistas veio a ser senador no período da Ditadura Militar, e todos os militares e torturadores da Ditadura Militar nunca foram julgados e punidos. Há muitos esqueletos em nosso armário e o brasileiro só terá uma melhor noção histórica do país em que vive quando nós nos livramos destes esqueletos, olhando de frente para os cadáveres.