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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tempo cinza.

A imagem bucólica que presenciei pela janela me levou ao passado, me transportou para tempos de solidão e frieza de coração.

O céu, de um lado da janela jazia branco desaguando chuva, e de outro, num frio cinzento, chorava a solidão da sua existência.

Lembrei-me de tardes sentada à vista de minha janela, mais vendo do que sentindo o tempo passar, tendo milhares de pensamentos em minha cabeça e ao mesmo tempo um silêncio gélido ecoava em minha alma.

Um tempo em que as dúvidas e confusões eram maiores em mim que a certeza de quem eu era.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Na falta de palavras, falo mais ainda.

A cama quando se deitou estava extremamente vazia. Sentiu frio e não havia meio que pudesse aquecê-la naquele momento, porque depois de tantas horas seguidas imersas no calor do colo dele, estar sozinha só faria sentir frio, sentir medo.

Ouviu do lado de fora a chuva. Sentiu seu corpo se arrepiar de frio e teve de aceitar que além da ausência que ela teria de superar nesta noite, teria também que enfrentar um de seus medos. Aguentaria a chuva, os raios e trovões. Fingiria para si mais uma vez.

Apesar do som da chuva e do barulho incômodo dos raios, seus quarto, sua noite estavam silencioso demais. Não havia a respiração lenta e profunda que a embalara na noite anterior, nem tampouco as batidas daquele coração que tanto lhe importava. Ele possuía o melhor som do mundo, e era responsável pela vida do ser que lhe inspirava todo o amor que havia dentro dela.

O cheiro da sua coberta pela primeira vez remetia seus pensamentos para o cheiro mais doce, suave, envolvente e entorpecente. O cheiro que anestesiava e causava arrepios. O cheiro que lhe inspirava razão para acordar, levantar, persistir. Tudo hoje tinha outras razões. Tudo hoje tinha outra cor.

Cores mudadas, cheiros importantes e embriagantes, calor aconchegante.
A vida em si era outra.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quem sou eu.

Tantas vezes sou fogo, avassaladora e egoísta. Sou gelo, cortante e assassino; refrigério em meio à seca e ao calor escaldante. Outras tantas sou fonte de vida e de calor.

Sou veneno destilado, fala aguda, pronta para agredir. Em outros momentos, me dou como consolo, como ombro para lágrimas, pranto e praguejamento. Sou doce, amável e sorridente. Pronta a fazer sorrir.

Me sinto amada e detestada todos os dias. Nuns mais que em outros. Me sinto perdida inúmeras vezes, como uma criança assustada que não sabe onde ir. Que não tem para onde ir, e noutras me sinto segura, dando segurança a outro ser.

Nele tudo se completa. Ou seria com ele tudo completo fica?
Posso estar perdida inclusive deitada em seus braços, mas mesmo assim sei quem sou e tudo aquilo que gosto, inclusive seu gosto. Posso sentir frio e medo dos trovões lá fora, mas sinto-me segura e aquecida por seu hálito.

É, nele tudo se completa.
O frio e calor, o doce e o salgado, o bem e o mal. O amor e a amizade, misturados com paixão.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dias como hoje.

Definitivamente odeio chuva.
Odeio molhar o pé e ter que ficar com eles neste estado o dia todo. Odeio pessoas que fecham totalmente as janelas do ônibus, fazendo com que eu respire um ar sujo, viciado, usado e descartado por todos ao meu redor.

Odeio goteiras de calha das lojas, que derramam em nós aquelas água suja sabe Deus do que. Odeio poças e calçadas com pedras soltas, que quando a gente pisa, levantam e espirram água lamacenta em nossas calças e tênis.

Odeio o mau-humor além do comum que se instala em mim em dias de chuva. Todo dia de chuva eu queria estar embaixo das cobertas, vendo um bom filme. Aliás, acho que em dias de chuva todo mundo devia ter o direito de ficar em casa com uma coberta gostosa, um bom filme e uma companhia prazeirosa.

Odeio ter que sair de casa com guarda-chuva e carregá-lo molhado o dia todo, pois precisamos dele, mesmo que ele não impeça com que molhemos nossos pés e barras de calça, nos deixando à mercê do frio o dia todo. Raios, trovões e céu preto em pleno dia me assustam, fazendo com que eu pareça uma criança.

Sinto falta da nossa cama e televisão em dias como hoje. Sinto falta de você como nunca.

sábado, 2 de outubro de 2010

Mãos em brasa.

Lentamente seus olhos pousaram sob as mãos delicadas com as unhas sempre feitas e seu peito encheu-se de um calor sentido todos os dias desde o início do namoro. Foram as mãos, as suas e as dela, que aproximaram os dois. Um carinho pincelado com sorriso, um brilho novo nos olhos com uma chama intensa no coração.

Olhar para seu ritual matinal era algo hipnotizante. Sabia exatamente como ela seguraria o açucareiro, com que mão seguraria o pão e a faca, e até  a expressão de semi-acordada que ela transmitia logo cedo. Lembrava então dos olhos de contorno azul no instante do tchau mais difícil, mas pensar nisso trazia consequentemente o "oi" e do abraço mais esperados. Voltava a emoção da primeira vez que acordou e logo em seguida pôde mergulhar nos olhos cor de caramelo. Fora uma manhã fria de sol. Era o inverno deles.

Tudo começara de um contato das mãos, que quando se tocaram, uniram dois corações machucados e adormecidos, que apenas precisavam de calor para despertar. E o contato trouxe todo o calor necessário.