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sábado, 23 de agosto de 2014

O machismo nosso no dia-a-dia.

Esta semana meu marido cortou seu dedo lavando a louça aqui em casa. Ao ir para o hospital - que inclusive é onde ele trabalha - a maioria das mulheres ficou absolutamente deslumbrada e chocada ao saber que no seu dia de folga, meu marido lavava a louça enquanto eu trabalhava. Todas estas mulheres que ficaram maravilhadas com um marido que ajuda nas tarefas domésticas ficaram o rodeando e comentando "como eu - Tamyres - tinha sorte em ter um marido destes." 

Assim como o Jonatha, que ficou indignado com estas reações, pois nas palavras dele "ele não faz nada demais, apenas os outros maridos é que fazem de menos", eu me revolto e me deprimo quando ouço este tipo de coisa. É realmente algo tão absurdo assim um homem ajudar sua esposa nas tarefas domésticas? Numa sociedade machista, é sim. A maioria das mulheres gostaria de ter um marido companheiro como o meu, e mesmo aquelas que ainda vivem oprimidas debaixo da nossa cultura machista, sem saber que há um mundo, com homens e mulheres diferentes, deseja ter uma vida melhor, um marido companheiro e não "seu dono". E se tantas de nossas mulheres gostariam de uma sociedade melhor e menos machista, porque a sociedade não apresenta mudanças? 

Simples: porque estas mulheres dão continuidade à cultura machista na qual foram criadas e na qual casaram dentro de suas casas, com seus filhos e filhas. Não estou aqui dizendo que todas as mulheres fazem isto, mas a maioria sim. O que vemos nas mulheres na faixa dos 35-45 anos são mães que exigem que suas filhas arrumem a cama de maneira impecável, enquanto o quarto do filho pode ser a zona que ele quiser. Mães que ensinam as meninas desde muito novas de que elas tem a obrigação de ajudar na arrumação da casa e ensinam os filhos de que eles devem encontrar esposas que sejam tão boas donas de casa quanto ela própria - sua mãe - sempre foi. Vemos mães que obrigam as filhas a lavarem a louça todo dia enquanto o filho sai jogar futebol com os amigos no campo do bairro, ou do prédio, porque afinal, o machismo não é um problema de classes sociais distintas. Ele atinge todas as classes econômicas e sociais.

E o que isto demonstra? Que estas mulheres gostariam de ter conhecido determinado tipo de homem - ainda raro hoje em dia, infelizmente - e não tiveram esta alegria, mas ao mesmo tempo não fazem nada para que a geração de mulheres que casará com os seus filhos tenha mais escolha e sorte ao encontrar um marido que não considere degradante ajudar sua esposa nas tarefas domésticas. Enquanto o pensamento das próprias mulheres que não gostam do machismo não mudar e elas não compreenderem o seu papel no empoderamento de suas filhas e na conscientização de seus filhos, a nossa sociedade pouco avançará em direção à uma sociedade mais igualitária e menos machista.

4 comentários:

  1. O problema do machismo é que ele foi imposto de certo modo às mulheres, que elas acabam passando à frente o pensamento.

    Com a hierarquização do casamento, onde a sociedade coloca o homem acima da mulher, ela é "obrigada" a aceitar que ele que comanda, ele que é o certo..

    Então temos duas crianças, um menino e uma menina, que são educadas com base nessa ideia.
    A menina é criada pra ser uma boa dona de casa, o pai espera que ela aprenda bem, com a mãe, como cuidar da casa e do marido, quer seria a pessoa mais importante do casal.
    O menino é criado para dar comida e dinheiro à mulher que vai cuidar dele, da casa e dos filhos.

    Quando isso é, de alguma forma, transposto, de alguma forma, pela mãe ou filhos, podemos ver o pai indo lá e "consertando". Ex:
    A mãe quer que o filho lave a louça, ou varra a casa, mas o pai fala que isso é trabalho de mulher. Como ele é o "chefe" da casa, todos aceitam isso como válido.
    Ou, ainda, o filho quer ajudar a mãe, mas o pai fala que homem varrendo é coisa de maricas.

    Como a família é hierarquizada como falei acima, a posição do "mestre" é tida como certa. A criação dos filhos vai se baseando nessas ideias até a hora que eles já são grandes e saem de casa, carregando o mesmo pensamento adiante.

    Como se quebra isso? Bem, pode ser por experiência (meu pai perdeu a mãe cedo, então ele, seus irmãos e meu avô tiveram que se virar, pois só uma menina nova em casa não daria conta de tudo) ou por educação (eu tive muito contato com os pensamento feministas e passei a questionar minha posição como homem na sociedade).

    De qualquer forma, tanto a mulher quanto o homem (esse talvez até mais, por ter uma posição de "privilégios" na casa) precisam aprender que os dois a mesma importância para a família. E passar isso para os filhos, que tão são importantes para a manutenção da casa.

    A partir daí, começamos a entender que não é o homem que ajuda nas tarefas domésticas, mas que os dois fazem o trabalho necessário para que a família se mantenha. (quando dá, quando não dá lá se vai quase uma semana com a mesma louça na pia =P)

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    1. Felippe, eu entendo que romper com a cultura machista tendo sido criada nela e vivendo rodeada por gente machista é algo difícil, mas enquanto não houver este rompimento de alguma das partes, a gente nunca verá uma mudança real na sociedade.
      Eu não culpo as mulheres por serem como são, já que foram criadas assim. Mas se elas querem um mundo diferente, terão de mudar também.

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  2. Se eu conto que meu marido lava louça, limpa a casa e manuseia a máquina de lavar das duas, uma: ou querem ele para elas ou acham que ele é louco. Kkkkk... Na casa dele é super natural ao acabar os almoços de domingo os filhos lavarem a louça e confesso que se tiver um menino o meu será criado assim. Acho que no mundo de hoje se pedimos tanto direitos iguais, o exemplo deveria começar de casa.

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    1. Pois é, Danielle. É muito triste ver que algo simples ainda é visto como totalmente incomum. É fácil quando a gente pensa que se o homem vive na casa também, faz todo sentido ajudar a limpar, mas para a sociedade é difícil aceitar isso, e só mudará através da educação que a nossa geração dará para os nossos filhos.

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