Tenho em minhas mãos um livro intitulado "Inquisição sem fogueiras: Vinte anos de história da Igreja Presbiteriana do Brasil: 1954-1974" e já na introdução do livro o autor João Dias de Araújo mostra como a União de Mocidade Presbiteriana Nacional foi desarticulada por se manifestar contra o contexto que o Brasil vivia desde a Ditadura da Era Vargas e questionar os problemas sociais do país e do mundo, como a Segunda Guerra Mundial. Como diz o autor "os jovens não tinham medo de criticar aquilo que achavam errado na Igreja e na sociedade" [página 36].
Não preciso dizer que logo muitos se levantaram contra estes que ousavam pensar e pior ainda, falar aquilo que pensavam, visando um país e uma igreja melhores. Tanto próprios membros da UMP [como chamarei a União de Mocidade Presbiteriana daqui em diante] como os líderes da IPB [Igreja Presbiteriana do Brasil]. Estes jovens eram vistos como subversivos, e seu jornal - segundo os jovens da UMP de Recife - perigoso por difundir ideias contrárias às defendidas pela IPB. E aqui eu me pergunto: lutar contra a desigualdade social, contra o analfabetismo da população e contra a guerra são coisas que vão contra os ideais e interesses de uma igreja cristã? Na década de 1960 parece que sim. Em maio de 1960, a Confederação Nacional de Mocidade Presbiteriana foi extinta.
E aqui entram os meus questionamentos atuais: Onde está a UMP brasileira, que nas décadas de 1950 e 1960 foi perseguida e levada à extinção por pensar, se manifestar e se posicionar frente aos problemas enfrentados dentro e fora da Igreja Presbiteriana do Brasil e hoje nem uma nota sequer lançou sobre os protestos que tem tomado conta do país inteiro? Será que a UMP não mais acha justo lutar pelos direitos do povo ou a extinção da mesma na década de 60 a fez virar um grupo encagaçado, com medo de represálias do sistema Presbiteriano? Ou será que a juventude presbiteriana, que outrora foi culta, intelectualizada e crítica, hoje se preocupa apenas se é legal fazer parte de grupinhos que prezam pela pureza sexual, mas não se preocupam com aqueles que passam fome, que são oprimidos e pisados pelo governo, com aqueles que não tem voz.
A alegria e orgulho que tomam o meu peito - e de tantos brasileiros e brasileiras - ao ver o povo acordando, se erguendo contra os abusos do nosso governo, contra a corrupção e a impunidade do nosso país, contra a truculência da nossa polícia e contra políticas que de públicas nada tem, hoje tem como companheiras a tristeza e a vergonha por ver um grupo que foi símbolo pela luta de um país e uma Igreja de Cristo melhores calado, escondido por trás de textinhos que discutem a maneira correta de namorar.
Queria ver a UMP Nacional unida para ajudar a melhorar o Brasil.
"O problema não é mais se dançar ou não dançar, se fumar ou não fumar é pecado, pois sendo Jesus nosso Senhor, estas coisas não tem mais poder sobre nós."
Paulo Wight - Mocidade
Jornal da Confederação Nacional da Mocidade Presbiteriana:1960
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