No começo deste ano, decidi iniciar um grupo de leituras com algumas amigas e conhecidas. Juntamos as meninas da igreja que frequento, e neste grupo de leituras leremos apenas autoras. A ideia é ler boa literatura, mas escrita apenas por mulheres. Este é um exercício proposto por grupos como o Leia mulheres, que pretende chamar a atenção para o fato de poucos dos livros realmente famosos foram escritos por mulheres.
Nosso primeiro livro lido foi o As meninas, da Lygia Fagundes Telles, autora brasileira, publicado em 1973. Abaixo, colocarei alguns dos trechos que mais me marcaram durante a leitura. Costumava fazer muito isso aqui no blog, mas acabei perdendo o hábito. O post onde falo minhas impressões gerais do livro deve sair por estes dias. (Ou não. Aguardem.)
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"Quero vê-la curada, casada com o tal milionário embora saiba que quando ficar divina-maravilhosa não vai me perdoar. Amparei-a nos pilequinhos, segurei sua mão nos abortos, emprestei milhares de coisas, a metade nem voltou. E o monte de oriehnid que vou emprestar (dar) para o cerzido na zona sul. Difícil me perdoar por isso."
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"'O programa da revolução está inteiro estruturado, resta ligar o pequeno motor que somos nós com o motor principal.' Levantou-se com cara de comício e, andando de um lado para outro, discursou sobre a dificuldade do operariado em se organizar, a maior parte habituada à servidão, à miséria, herança transmitida por gerações de conformismo. 'O medo, Lena. Medo de assumir, um cagaço de fazer chorar. Temos um bom grupo pra o que der e vier, o problema é com os mais velhos, os intelectuais. Salva-se meia dúzia. Assinam os manifestozinhos, fazem suas reuniões secretas, o sorriso secreto de Gioconda, o copinho na mão. E daí?"
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"Antigamente a santidade era vista como o máximo da penitência, caridade, aquilo que você sabe. Mudou tudo. Hoje um cristão não pode alcançar a salvação da alma sem servir objetivamente à sociedade. Não sei explicar, mas todo aquele que luta com plena consciência para ajudar alguém em meio da ignorância e da miséria, todo aquele que através dos seus instrumentos de trabalho, do seu ofício der a mão ao vizinho, é santo. Os caminhos podem ser tortos, não interessa. É santo."
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" - O Bezerro de Ouro está instalado na praça e a senhora me fala em espiritualidade. Os adoradores não são espirituais porque são adoradores, entende. O povo não é espiritual porque o povo quer fazer parte da adoração e não pode nem chegar perto, está desesperado, aquele brilho, aquele exemplo de conforto, gozo. Esses desastres, esses crimes, tudo isso é desespero, o povo está sem esperança e nem sabe. Então fica subindo nos postes, dando tiro à toa, bebendo querosene e gasolina de aflição. Medo. Eu estava assim desorientada. Agora sei o que quero fazer."
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"Se a Nova Esquerda não se unisse aos outros grupos acabariam todos tão multiplicados e enfraquecidos que quando se tentasse uma linguagem comum, ninguém mais se entenderia."